COMO O FUTEBOL CHEGOU AO BRASIL? TRAZIDO DA INGLATERRA NO FINAL DO SÉCULO XIX, ELE SE DIFUNDIU ENTRE NÓS COMO UM ESPORTE DE ELITE E, DEPOIS, GANHOU O CORAÇÃO DE TODOS OS BRASILEIROS.
VEJA E MANUSEIE 410 IMAGENS QUE RETRATAM A SOCIEDADE BRASILEIRA DESDE A LIBERTAÇÂO DOS ESCRAVOS, EM 1888, ATÉ O ANO DE 1927, QUANDO OS CLUBES DE FUTEBOL PASSARAM A ACEITAR ATLETAS NEGROS E O FUTEBOL SE PROFISSIONALIZOU.
CELEBRAMOS AQUI CRAQUES DO FUTEBOL, EM MEIO A ARTISTAS E INVENTORES (COMO SANTOS DUMONT, O PAI DA AVIAÇÃO). CELEBRAMOS TAMBÉM A GENTE HUMILDE DO POVO. E, PRINCIPALMENTE, CHARLES MILLER, QUE INTRODUZIU O FUTEBOL NO BRASIL; MARCOS CARNEIRO DE MENDONÇA, O GOLEIRO DA PRIMEIRA SELEÇÃO BRASILEIRA E, FRIEDENREICH, O ATLETA MAIS POPULAR DESSE PERÍODO – FILHO DE MÃE NEGRA LAVADEIRA E PAI ALEMÃO: FRUTO PERFEITO DO AUTÊNTICO BRASIL MESTIÇO.
Parece que todo brasileiro nasceu com a bola no pé!
Mas não foi sempre assim não.
O Futebol foi trazido pro Brasil por
Charles Miller,/
Filho de ingleses,/ Ele foi estudar na Inglaterra,/
e voltou de lá/ com uma bola e um manual de regras
1896
Você imagine que, sete anos antes /
1888
O Brasil foi o último país do mundo a libertar os escravos./
Os negros,/ mulatos,/ mestiços/ foram jogados na rua.
E a elite queria provar que era a tal./
E provar àquele povo mestiço quem é que mandava,/
Quem é que era mais atleta.
Os bem-nascidos trouxeram o futebol para uso exclusivo deles. /
Jogavam com roupas de seda./
Os que assistiam vinham todos elegantes, de cartola e chapéus.
O Brasil era um país dividido:
de um lado, aqueles que tudo tinham.
De outro,/ os descalços/que só podiam assistir do alto dos morros
o que se passava nos estádios.
1902
O primeiro estádio foi o do Fluminense, construído no Rio.
Um jornal de época dizia assim de um jogo:
“Ocorreu esta semana um match entre Fluminense
e o América Football Club.
De camisas elegantes, com os bigodes bem aparados,
os footbalers apresentaram-se como verdadeiros sportsmen.
O bem vestido público,
composto de famílias e cavalheiros aplaudiu efusivamente”.
Ora, vejam só: até os nomes eram falados em inglês.
Match era jogo. Footbaler era jogador.
Muito chique, não é? /
Tudo para deixar do lado de fora o povão.
Até o goleiro do Fluminense, um ídolo!, Marcos Carneiro de Mendonça, jogava com uma fitinha-roxa de seda. Elegante!
Mas a verdade é que o futebol precisava ser reinventado./
Foi o que aconteceu./As cidades começaram a crescer, /
o país a se industrializar. /
Os mestiços, os imigrantes mais humildes e os negros/ passaram a trabalhar nas fábricas, /
nas lojas das cidades./ E aí?
Bom, aí, eles saíam das ruas para as várzeas,
das fábricas para os campinhos,
pegavam a bola no pé com uma maestria sem igual
e passavam a driblar,/ a inventar... a dar baile./
Eles não podiam mais ficar de fora dessa jogada.
1910
Os clubes ainda teimavam em impedir a entrada da gente do povo. /
Sabe como? / O estatuto dizia assim:
“É proibido a presença de trabalhadores braçais”.
Ora,/ futebol só podia ser jogado por quem tivesse anel de doutor?/
Não ia dar certo.
1927
Em 1927 todas as proibições caíram por terra /
e entraram em cena os melhores,/
não importando a origem nem o berço./
O futebol tornou-se a primeira batalha
em que o povo brasileiro entrou e ganhou.
Tomou para si o futebol e deu asas à ele.
Nessa época surge nosso primeiro craque mestiço,
com um nome pra lá de complicado: Friedenreich.
Também com esse nome só poderia ser filho/ de pai alemão
de olhos verdes/ e mãe negra, lavadeira...
O CRAQUE
Friedenreich deu um banho de competência.
E o Brasil passou a mostrar com orgulho,/ aos olhos do mundo,
que éramos um país capaz de aceitar todas as diferenças.
E fazer disto um gostoso fruto mestiço.
Agora você sabe porquê há uma bola na bandeira do Brasil.
E outra imensa, que pulsa e vibra, no seu coração de torcedor!