04/07/2017

10. Heróis

O BRASIL SÓ OLHAVA PARA O EXTERIOR. TUDO O QUE ERA BOM VINHA DE FORA. NÃO ACREDITÁVAMOS NA FORÇA DE NOSSA EXPRESSÃO CULTURAL. A PARTIR DOS ANOS DE 20, PASSAMOS A VIVER O INÍCIO DO MODERNISMO. CRIAMOS UMA LITERATURA COM BASE NA REALIDADE VIVIDA EM CADA REGIÃO DO PAÍS: SURGE JORGE AMADO, COM O “PAÌS DO CARNAVAL”. PASSAMOS A CRIAR UMA EXPRESSÂO VISUAL, INCORPORANDO AS CORES, AS FORMAS DA NATUREZA E AS LENDAS POPULARES: SURGEM OS PINTORES PORTINARI, DI CAVALCANTI, TARSILA. O ARQUIITETO NIEMEYER PROVA QUE A BELEZA DE UM PRÉDIO PODE SER LEVE.

ESSA REINVENÇÃO DO BRASIL PASSA TAMBÉM PELO FUTEBOL. NESSE PERÍODO, ENTRE OS ANOS DE 1930 a 1950,  SURGEM DOIS GRANDES CRAQUES DO FUTEBOL: DOMINGOS DA GUIA E LEÔNIDAS DA SILVA,  O DIAMANTE NEGRO, INVENTOR  DA BICICLETA, UM TIPO DE JOGADA EM QUE O JOGADOR CHUTA A BOLA “VOANDO” COM AS DUAS PERNAS PARA CIMA. ELES AQUI FIGURAM COM A MESMA IMPORTÂNCIA AO LADO DE OUTROS CRAQUES DA VIDA CULTURAL BRASILEIRA.

 

QUEM FOI QUE DESCOBRIU O BRASIL?

 

- Quem descobriu essa terra chamada Brasil foi “seu” Cabral, há muito tempo atrás.

 

Mas o Brasil Brasileiro só foi descoberto pelos heróis do século XX. Heróis que venceram preconceitos e desbravaram a alma dos brasileiros, .

 

como o antropólogo pernambucano Gilberto Freyre que olhou para esse povo misturado e mestiço e disse:

“Isso é bom!”

 

Heróis das décadas de 1930 e 40 que descobriram o valor da nossa cultura e da nossa gente como o compositor carioca Villa-Lobos  que ouviu o batuque dos negros, o canto do índios, o violão das esquinas, e disse:

 

“Isso vale uma sinfonia!”

 

O Brasil virou Brasil quando deixou de acreditar que para ser civilizado era preciso virar branco e falar francês.

 

E QUEM FOI QUE INVENTOU ESSE NOVO BRASIL?

 

Foi gente como o poeta paulista Mário de Andrade, que deu o novo grito do Ipiranga:

 

-  “Chega de Imitação!”

 

Chega de ter saudades da Europa, que ser brasileiro agora vale a pena!

 

E foi a pintora Tarsila do Amaral, caipira-chique de Capivari, que criou o Abaporu, a índia que pensa: “Tupi or not tupi?”

 

- Ser Tupi, claro...

 

Ser Brasileiro é devorar tudo que vem de fora, e depois fazer do nosso jeito.

 

O Brasil dos anos 30 não é mais apenas o país das grandes plantações de café.

 

A agitação cresce nas cidades e despontam os primeiros arranha-céus.  Os bondes elétricos despejam trabalhadores nas fábricas.

 

Getúlio Vargas cria as leis de amparo ao trabalhador e inicia a construção do Brasil moderno.

 

Os estádios viram palco de grandes celebrações patrióticas.

 

 De repente, o Brasil tem pressa, porque descobre o futuro já chegou.

 

 

E QUEM SONHOU O FUTURO DO BRASIL?

 

- Foi gente como Anísio Teixeira, que escreveu o manifesto por  uma “Escola Nova” – onde as crianças aprendem sem decoreba e sem vara de marmelo.

 

- E foi Monteiro Lobato que criou os primeiros heróis brasileiros da imaginação infantil.

 

O arquiteto Oscar Niemeyer projeta na Pampulha, em Belo Horizonte, a primeira visão do Brasil do futuro: um país capaz de fazer poesia com curvas de concreto.

 

O Brasil era grande demais para caber em um só retrato.

Portinari pintou brasileiros de todos os tipos, de todas as regiões do país e incorporou o futebol à arte.

 

Mas em meio a tantas cores e tanto movimento, era Di Cavalcanti quem buscava a imagem-síntese da sensualidade brasileira.

No colorido de seus quadros e nos palcos do Cassino da Urca, o Brasil assiste a invenção da mulata.

 

O arquiteto Oscar Niemeyer projeta na Pampulha, em Belo Horizonte, a primeira visão do Brasil do futuro: um país capaz de fazer poesia com curvas de concreto.

 

- E QUAL É A CARA DO BRASIL?

 

O Brasil era grande demais para caber em um só retrato.

Portinari pintou brasileiros de todos os tipos, de todas as regiões do país e incorporou o futebol à arte.

 

Mas em meio a tantas cores e tanto movimento, era Di Cavalcanti quem buscava a imagem-síntese da sensualidade brasileira.

No colorido de seus quadros e nos palcos do Cassino da Urca, o Brasil assiste a invenção da mulata.

 

“Vestido de Noiva” estréia em 1943 e revoluciona o teatro brasileiro. O carioca Nelson Rodrigues agora leva para o palco os personagens e o drama que recolhe nas ruas.

 

Com o baiano Jorge Amado e o pernambucano Manuel Bandeira, a literatura e a poesia começam a falar o português gostoso do Brasil.

 

Ser brasileiro, afinal, é usar e abusar do diminutivo, pois as palavras também são gestos de carinho..,

 

assim como são “carinhosas” as valsas e os chorinhos  nascidos da flauta do genial  maestro Pixinguinha.

 

Ser brasileiro é chegar logo pedindo um café, puxando conversa, cheio de intimidade, como os sambas de Noel Rosa, poeta e cronista de Vila Isabel.

 

É ser  irreverente como Carmem Miranda, que brilha nas telas de cinema, e como embaixadora do samba e do carnaval,  faz da baiana o nosso primeiro símbolo internacional.

 

- E QUEM FOI QUE UNIU O BRASIL?

 

Quem uniu o Brasil foram as ondas do Rádio, transformando suas estrelas e os jogadores de futebol em novos heróis populares.

 

Os locutores, como Ary Barroso, arrancam, pela primeira vez, milhões de gritos de gol ao mesmo tempo.

 

E O FUTEBOL-ARTE, DE ONDE SAIU?

 

Saiu das pernas dos craques dos anos 30 e 40.  Das proezas de Leônidas da Silva, o Diamante Negro, que virou o futebol do avesso e criou a bicicleta.

 

E saiu da precisão milimétrica das jogadas de Domingos da Guia, o Divino Mestre, inventor do drible curto.

 

Promovidos a deuses da bola, os craques agora merecem seus templos.

 

Em 1940, São Paulo inaugura o Pacaembu, o maior estádio da América do Sul. No Rio, ergue-se o Maracanã, um estádio do tamanho dos nossos sonhos para a Copa de 50.

 

Os craques levaram para o campo a ginga das gafieiras,

a torcida trouxe para os estádios o ritmo das escolas de samba.

 

Mais que jogadores, criamos inventores do futebol.